"...Não é isso que todo mundo acha super divertido? Beber e fumar, e
beber, e fazer sexo sem amor, e beber e fumar e dançar e chegar tarde e
envelhecer e não sentir nada? Sabe Zé, no começo doeu não sentir nada.
Mas eu consegui. Eu não sinto nada. Nada. Uns vem, uns vão. As garrafas
tão lá, ao lado do lixo. As cinzas saem dançando por aí. As minhas vão
junto. No dia seguinte eu acordo, tomo um banho, passo protetor solar,
sento na minha varanda com o meu jornalzinho e ó: nada. Nadinha. Nem
pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era linda, Zé, mas
ninguém entendia ela, ninguém acolhia ela. Todo mundo só abusava dela.
Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não
tenho mais alma nenhuma. Já era, Zé. É isso que chamam de ser esperto?
Nossa, então eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, Zé? Sentiu o
barulho de granito? Quebrou o braço, Zé? Desculpa."
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